Silent Lucidity: Conversas mágicas

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Conversas mágicas

Considero intrigante e admirável o modo como certas conversas nos embalam e nos iluminam. Não estou aqui levando em consideração a idéia de nos tornarmos seres iluminados, mas sim, me refiro a luz que reflete e que possa vir a tornar o escuro, ou a pequena névoa, um pouco mais claro.

Certos diálogos, que são realmente diálogos, nos fazem ir além da margem que nos colocamos. “Posso ir até ali, ou, consigo ir somente até tal ponto, no mais quem sabe, sou incapaz”. Mas quando há disposição e floreios na mente, o limite se torna vulnerável e os caminhos nos levam aos trilhos das moradas distantes. Os pensamentos pedem a carta de alforria, e passam a encontrar na disponibilidade do outro, a brecha amiga e companheira. Encontram as mãos, a inquietação e a cumplicidade do outro que empenha e fornece sua atenção e pensamentos.
Assim, o que sinto em relação a determinadas conversas, que gosto de intitular “mágicas”, é uma profunda intimidade com o passo a ser dado. Pois, é perceptível a encantadora e cativante presença da segurança e da consistência naquilo que está sendo interado. Se certas palavras são ditas é porque naquele momento e partindo daquela pessoa, pude perceber e sentir o passo firme em pisar nas terras do companheirismo sem julgamento ou ‘achismo’ acerca do que venha a ser certo ou errado. Ou seja, sem dedos apontados em direção aos meus olhos. Neste caso, lembro-me de Goethe quando diz que: "Diz-se da melhor companhia: a sua conversa é instrutiva, o seu silêncio, formativo."
É como o mágico da conversa me disse: “Mergulhamos em nós mesmos através do outro.”
Quando me encontro em direção a mais uma superação, consigo abrir as janelas e portas das moradas de ferros e deixar a corrente de ar encanar novos tons e novos sabores. Para isso, é preciso considerar mais do que a força da natureza no aspecto eólico, mas também a inclinação interna e impulso para que as aberturas aconteçam de forma coerente. Pois, caso abrirmos demasiadamente, o vendaval pode acarretar embaraçosas quedas, já que ventos intensos e constantes podem levar mais do que gostaríamos que levassem. Mas, caso não abrirmos o suficiente para o ar se renovar, podemos contar apenas com o mesmo ar, e pobre daquele que não se apropria da oportunidade de inovar.
Mergulhar em mares em que não conhecemos pode parecer ousadia, mas mais do que isso, é um ato de coragem. Não me vejo como um ser repleto de valentia, mas quando há firmeza, não hesito e não titubeio em expor o que habita as moradias dos devaneios.
Há conversas que extrapolam as palavras e tomam as barcas da intensidade da compreensão das expressões. E nesta ultrapassagem realizada na maré cheia, é altamente favorável navegarmos nas embarcações do cuidado em ouvir e cuidado em dizer. Pois, as palavras não são meras letras unidas, possuem além do rigor de seus significados, um adicional, o peso. E não considero este peso uma brisa suave e calma, mas também não o considero uma âncora ou um fardo. Talvez seja uma vela, já que sendo um material sólido há um determinado peso, porém auxilia na locomoção do barco.
Ora, ora. O que seria de mim sem uma vela? O que seria de mim sem uma navegação aberta? Assim, posso sentir os raios mais dolorosos e ardidos do sol, como também posso ver com toda a nitidez o brilho da lua. Posso sentir cada gota da chuva, e posso assistir ao filme dos raios e trovões no céu, ora cinza, ora azul.
Ah, o que seria de mim sem uma vela? A corrente de ar passaria, e meu barco continuaria no mar sem uma ferramenta de encontro que me levasse a seguir em frente, ou para o lado.
O que seria de mim sem as indagações críticas? Talvez mais uma ‘cri cri’ sobre o mundo, nas não sobre minha própria pessoa.
O que seria de mim sem o mundo mágico do diálogo? Talvez mais um truque fugaz na expectativa de concluir a ilusão da cartola. Quem sabe um puro monólogo funesto e intragável.
Certamente, recuso o pedestal. Quero um bom banco, uma boa conversa, um bom mágico e um bom andamento na caminhada mundana, seja neste mundo ou em outro.
Quero sim um chão inquieto, porém seguro. Quero uma maré cheia sem ondas desastrosas. Quero um barco a vela. Quero os ventos e brisas, pois estes nos impulsionam, entretanto, me recuso a enfrentar os ciclones e furacões, pois estes (ah estes!) tomam mais do que meus simples pensamentos, bebem a minha impaciente paciência.
Acabo aqui com Sêneca: "Conversa com aqueles que possam fazer-te melhor do que és."
Assim tenho feito.

Lembranças de um futuro.

1 comentários:

Rodrigo Dalmolin disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
 
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